Não é de hoje que eu reparo o tanto de bullshit quando se tem que escolher algum periférico pro seu computador. A quantidade imensa de descrições sem sentido e reviews feitas por pessoas que não entendem nada ou até mesmo mal intencionadas é gigante.
Sem brincadeira, as pessoas se acham no direito de fazer um review e na maioria das vezes não fazem ideia sobre o que avaliar no produto. Já vi gente falando que DPI em mouse é um fator importantíssimo na decisão, que existem mouses específicos para tal gênero, que sensores laser são literalmente uma criação divina interpretada pelo homem, e outras baboseiras do gênero.
A realidade é que a maioria das empresas e sites aposta na ignorância do leitor, e, sinceramente, funciona na maioria das vezes. Não que seja sua culpa, já que é realmente difícil achar informações realmente relevantes sobre o produto sem que venha carregada de marketing non-sense.
Por outro lado, este cenário está mudando nos últimos anos, graças a bons reviewers como o wetto do grupo do Facebook “Periféricos High-End”. Aliás, foi lá que eu aprendi muito do que eu sei hoje sobre periféricos no geral, então um grande agradecimento ao pessoal de lá, sempre muito prestativo.
Mas chega de enrolação, vamos ao guia.
1 – DPI é o caralho
DPI é, para o marketing, o equivalente de megapixels em câmeras. É tipo aquele seu tio que mede o quão potente é um computador de acordo com o armazenamento dele. “Porra, meu sobrinho tem um computador de um tera!”
Imagine que o sensor do seu mouse é uma câmera pequeninha que tira muitas fotos por segundo. Imaginou? É isso que ele é. O DPI indica quantas “fotos” por polegada o sensor tira. Enquanto mais fotos pode parecer mais precisão, é muito difícil usar DPIs acima de 800, e pra cima de 2000 já é impraticável. E pior ainda, muitas empresas que querem fazer seus produtos parecerem melhor do que são usam técnicas como interpolação, que é basicamente você pegar uma DPI baixa e fazer parecer alta. Muito parecido com as famosas TekPix e como elas tinham 12 megapixels e as filmagens continuavam parecendo um desenho de giz de cera.
A realidade é que a maioria dos mouses atuais tem uma quantidade de DPI decente, e por via de regra, se o valor apresentado pela empresa é algo absurdo como 5600DPI, desconfie.

Portanto, quando for escolher um mouse, apenas ignore o DPI dele. É muito mais importante ver o quão bom é o sensor dele e a implementação. O problema é que esses não são dados necessariamente quantitativos, por isso que você vai ter que dar uma procurada por aí e entender qual sensor vale a pena.
2 – Ergonomia é totalmente subjetivo
Então não adianta nada você sair por aí perguntando por um mouse “confortável”.
Porém, existem alguns três tipos de pegada, e isso deve dar uma boa prévia de como vai ser a sua relação com a estrutura do mouse. Palm, Fingertip e Claw.
Os nomes são bem explicativos; se você usa Palm, sua palma da mão inteira vai ficar sobre o mouse. Na fingertip, as pontas do dedo são as responsáveis pelo grip e os movimentos são baseados em mover o pulso. Já na Claw, o formato da mão acaba sendo semelhante a uma garra, com a palma flutuando e as pontas do dedos no mouse. No fim das contas, é questão de costume e questão do tamanho e formato do mouse.
Teoricamente, todo mouse pode ser usado com qualquer pegada, mas tentar usar Palm em um mouse “de notebook” (aqueles pequenininhos) deve ser frustrante.
Portanto, entender como você usa o mouse já é uma boa prévia do quão confortável ele vai ser.
3 – Óptico é Ótimo
Nem sempre, na verdade. Na real, existem diferenças (como o LOD, lift-off distance) que podem definir sua compra. Mas, a menos que você queira usar o mouse em uma mesa de vidro, sem mousepad, vai de óptico. O motivo? Os melhores mouses do mercado são ópticos. (pelo menos até o dia que eu escrevo esse post).
Laser pode até parecer mais atrativo por causa dos altos DPIs que prometem, mas como discutido acima, isso não quer dizer nada sobre a qualidade do sensor.
Eu não vou explicar a diferença técnica entre os dois porque não é a intenção desse post, mas se você, astuto cientista, quiser aprender, nada que aquela pesquisada básica não resolva. Basicamente, os sensores “laser”, nada mais são que sensores ópticos que emitem uma luz visível ao invés de uma invisível.
Graças a física da parada, sensores a laser são mais precisos mas de uma forma pior. Imagine que a tecnologia dele é capaz de pegar mais informações da superfície que você tá usando. O problema é que ele pega mais informação que precisa, e isso causa o que chamamos popularmente de aceleração; nada mais que um erro de tracking causado pela discrepância na captação da velocidade.
4- Mouse sem fio não é pior que mouse com fio
Se formos nos ater as tecnicalidades das coisas, sim, mouses sem fio representam uma maior latência do que seus primos wired. Na prática, a diferença é, atualmente, pouco perceptível, e dependendo o dia em que você estiver lendo esse post, pode ser que a tecnologia wireless tenha avançado ainda mais e essa latência seja ainda mais insignificante. (E Hoverboards ainda não foram inventados. Ou pelo menos, essa é a minha aposta)
Mas afinal de contas, como eu escolho um mouse então?
Agora que você já sabe todos os mitos que o marketing excessivo criou sobre estes periféricos, você já pode escolher o seu periféricos baseado nas características que mais lhe importam.
Por exemplo, não é todo mundo que precisa de um mouse “gamer”. Se você não joga shooters de precisão como CS:GO, talvez seja uma boa ideia economizar no mouse e escolher algum que tenha boa durabilidade e conforto, sem ter um sensor estupidamente preciso.
Como novos sensores são lançados periodicamente, é impossível eu listar aqui algumas sugestões específicas, mas sempre procure se informar por fontes confiáveis se o que você está comprando possui angle-snapping, prediction ou aceleração. Esses são fatores “picanha ao alho”. Porquê o termo? Quando você vai em uma churrascaria, sempre desconfie da picanha ao alho. Na maioria das vezes, é uma carne que sobrou e não está com um cheiro muito agradável, então tem o gosto e aroma camuflados com uma bela camada de alho. (de nada)
Em alguns mouses, ocorre o mesmo. Eles usam de artifícios para tentar fazer o periférico parecer melhor do que é pra te vender porcaria. Claro, se você vai usar para navegação ou escritório, não muda tanto, mas atrapalha demais pra quem precisa de precisão.