Analisando um teclado de bambu com switches eletromagnéticos – XMIT Hall Effect

Se formos fazer uma análise histórica dos teclados mecânicos, a tecnologia básica deles é a mesma desde os anos 80.

Claro, a gente colocou umas luzinhas aqui e mudou um pouco a aparência ali. Mas por dentro, a gente ainda usa a mesma tecnologia que usávamos a uns 30 anos atrás.

O teclado que analisaremos hoje conta com o ressurgimento (pelo menos em teclados) de uma tecnologia dessa época, os switches baseados no efeito Hall.

O Efeito Hall

Vou dar uma explicada rápida do que se trata o efeito Hall utilizado pelos switches desse teclado.

Basicamente, o efeito Hall refere-se a influência de um campo magnético externo sob um material condutor. De forma simples, movimentar um imã próximo a um material condutor (nesse caso, o sensor de hall effect) gera uma corrente.

https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/7/7e/Hall_sensor_tach.gif

Portanto, dentro de cada switch há um ímã, e o movimento que ocorre com o pressionar da tecla causa uma alteração no campo magnético que por sua vez cria uma corrente interpretada pelo sensor hall (em cada switch) como uma pressionada de tecla.

Switches baseados no Hall Effect

Mas qual a vantagem disso em um teclado? Basicamente, você consegue ter uma confiabilidade muito maior no switch, além de praticamente eliminar qualquer desgaste, tendo switches praticamente infinitos.

Um dos problemas em switches tradicionais como os Cherry/similares é que eles são baseados em contato, e isso significa que eventualmente eles falham pelo desgaste. Um switch Cherry MX é avaliado em 50 milhões de pressionadas.

Switches eletrocapacitivos como Topre resolvem o problema do contato, mas por se basearem em capacitância, eles tem seu funcionamento totalmente afetado pela água.

Os switches Hall Effect foram majoritariamente utilizados em aplicações militares, aeronáuticas, hospitalares e em qualquer outro lugar onde você precisa ter CERTEZA que aquilo vai funcionar em qualquer lugar, em qualquer condição. Imagine as consequências de um switch falhando ou tendo double-click em uma dessas áreas.

Por isso, são basicamente switches infinitos, com a durabilidade na casa das 80 BILHÕES de pressionadas. Molas não desgastam, imãs não desgastam. Não tem LED pra queimar como nos switches ópticos, e nem metal pra oxidar.

Você podia dedicar sua vida inteira a ficar o dia todo apertando um único switch desses que ainda não daria tempo de chegar ao final da vida útil dele.

XMIT Hall Effect Bamboo

Beleza, deu pra ter uma noção básica de como o mecanismo principal desse teclado funciona. O teclado dessa análise (que conta com essa tecnologia) é o XMIT Hall Effect na case de Bambu. Eles disponibilizaram em uma case de acrílico no passado também.

A marca XMIT

XMIT não é uma grande empresa ou fábrica, ele é um membro da comunidade de teclados mecânicos como eu ou (provavelmente) você.

Apesar de ser bem legal ver os esforços da galera em inovar e trazer coisas novas, isso tem algumas implicações que vamos discutir mais a frente, quando falarmos sobre o futuro dessa tecnologia.

Aparência

Claramente uma das coisas que mais chama a atenção nesse modelo em específico é a construção inteiramente em madeira, mais especificamente em bambu. Existem alguns teclados mecânicos customizados que utilizam uma case de madeira, mas nesse caso, todo o conjunto do teclado é de bambu.

Teclado “desmontado”, sem a parte de baixo da case com a PCB exposta

Isso inclui a plate, a camada do meio (que separa a PCB do fundo do teclado) e a traseira dele. É um design “sanduíche” composto de três partes.

Ele também vem com keycaps brancas, RGB completo e a sua elevação é feita por um bloquinho de madeira removível (com os parafusos) caso você prefira que ele fique com um grau menor de elevação.

Acabamento

Sinceramente, o acabamento dele não é dos melhores. A borda dele é bem viva, a madeira é um pouco “empoeirada” (do tipo que deixa um “pózinho” nas suas mãos) e não é lá a coisa mais refinada do mundo.

No Massdrop eu vi algumas reclamações de alguns trincos na madeira também. Bambu não é bem o material mais fácil do mundo de se lidar, principalmente por ser “natural”.

Entretanto, mesmo que isso acrescentasse no custo final, eu não ligaria de pagar pra ter uma madeira melhor acabada, com alguma cera e com as bordas mais lixadas.

Ele não passa tanto aquela impressão de “premium” quando você o manuseia.

Construção

Falando sobre a parte externa, é um teclado bem sólido, sem flexibilidade no case.

Como dito anteriormente, ele tem o conjunto da case em “sanduíche”, com o design de “teclas flutuantes”, ou seja, com a lateral dos switches exposta. Não é bem minha preferência e nem é o método mais seguro de construção, mas tem bastante gente que gosta, e no caso desse teclado, faz bastante sentido deixar a plate mais visível.

A construção interna é simples, mas bem feita. As soldas não tem nenhum problema e o próprio mecanismo é mais simples, reduzindo o tanto de coisas que podem falhar.

A PCB é protegida por uma camada de resina, o que deixaria o teclado TOTALMENTE a prova d’água, se ele não fosse de bambu.

O modelo de acrílico é capaz de funcionar completamente mesmo submerso em um tanque de água, por exemplo. Não sei qual a utilidade disso no dia-a-dia, mas pelo menos você pode ficar tranquilo caso derrube algum líquido nele ou sei lá.

Keycaps

As keycaps são basicamente aquelas de PBT “Double-shot” que a gente vê em vários teclados chineses, como o Anne Pro, por exemplo.

A fonte utilizada nas keycaps é bem razoável, não tem tantos recortes como aquelas que vem em “teclados gamer”, mas tem alguns já que não é tanto uma escolha estética quanto de molde e qualidade de injeção.

No geral, elas são keycaps decentes. Não são high end nem nada, mas não vão se desgastar com o tempo e são melhores que as teclas padrão de muitos teclados, incluindo teclados muito mais caros que ele (tô olhando pra você, Logitech)

Feeling e Switches

Como é o feeling de um switch Hall Effect?

Esse meu teclado é um modelo da primeira geração, e ele é baseado em um switch black. Ou seja, linear e com peso médio.

Pessoalmente, eu achei um switch muito prazeroso, se você gosta de lineares ele é um bem “liso” e suave. O peso é de 60g, é mais pesado que um red ou coisa do tipo mas longe de ser exagerado ou cansativo de usar.

Mas tem uma coisa que quebra isso tudo: os estabilizadores.

(pra quem não lembra, os estabilizadores são mecanismos utilizados em teclas grandes como a barra de espaço pra que ela funcione com você apertando em qualquer lugar, incluindo as extremidades laterais)

Sério, eles são bem ruins. Eu vou tentar resolver com lubrificante de switches quando lembrar disso, mas eles são muito barulhentos e alguns chegam até a “ranger”.

Provavelmente é fácil de resolver, mas estabilizadores são uma coisa que as empresas sempre tentam cortar custos e isso não devia ser assim. São parte integral do feeling do teclado, e stabs ruins arruínam boa parte da experiência pelo menos pra mim.

Nos teclados da segunda geração foi possível escolher uma maior variedade de switches, como um clicky (estilo MX Blue) e tactile (estilo MX Brown)

Iluminação RGB

Sim, esse teclado tem iluminação RGB, mas a impressão que eu tenho é que foi adicionado como um “afterthought”, algo que eles colocaram de última hora só pra ter.

Não me entenda errado, ele funciona “bem” e tem uns efeitinhos maneiros, é bem vivo e tem uma boa qualidade.

Porém, eu tive um problema na configuração “custom” onde você cria seu próprio perfil de iluminação: o rosa dos LEDs da parte de baixo (a linha da barra de espaços) não é igual o rosa de cima. É um problema de firmware, visto que nos efeitos normais de RGB ele fica da mesma cor.

Não é um problema muito grande e não afeta se você for usar os efeitos padrão do teclado (ou melhor ainda, desligar tudo) mas, pra mim, isso entrega uma certa falta de profissionalismo, ou melhor dizendo, um certo amadorismo da empresa. O que é de se esperar, foi o primeiro modelo que eles produziram.

Conclusão

Como um todo, é um teclado bem legal. Ele tem alguns problemas (quase todos por falta de experiência da empresa, é o primeiro modelo deles) mas nada é muito grave.

Os switches Hall Effect podem ser o futuro desse mercado e eu gostaria de vê-los em outras aplicações, já que a tecnologia permite até mesmo uma leitura analógica (de sensibilidade, como é feito nos gatilhos do controle do XBOX One S), mas isso não foi utilizado até o momento.

 

Com o valor de 99 dólares na época do drop quando ele estava disponível, é um teclado legal pra quem quer brincar com essa tecnologia que promete muito. Os problemas de acabamento também não são difíceis de resolver, uma cera e uma lixa já deixam ele muito mais “premium” externamente.

A impressão que fica é que se trata de um protótipo feito pra demonstrar uma tecnologia mas que não se preocupa muito com as outras partes do projeto.

Não é um teclado que eu recomendo a todo mundo, por 99 dólares eu sinceramente acho melhor pegar um TADA68 ou até mesmo um Anne PRO (e ainda sobra um troco pra pegar keycaps pra ele), mas se você é curioso ou entusiasta, pode ser bem legal a experiência.

 

 

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