Como comer mais no rodízio – O guia completo

É uma característica humana: ninguém vai no rodízio pra sair de lá simplesmente saciado: a intenção, quase sempre, é causar um estrago de proporções inigualáveis.

Acho que a ideia de “coma o quanto você quiser” soa como um desafio pra gente ou coisa assim. Ou talvez a ideia de que você pode comer mais do que está pagando atice nosso lado malandro. Vai saber.

Enquanto o garçom não estiver pedindo arrego, o dono chorando do outro lado do balcão e você não estiver a ponto de entrar em um coma induzido pelo caminhão de comida que você acabou de ingerir, não é permitido ir embora: regra simples.

O cenário é de guerra: vários soldados saem de seus lares com o mesmo ideal: falir o estabelecimento. E todos os artifícios necessários serão usados, os fins justificam os meios. Custe o que custar, nem que você coma calorias o suficiente pra manter seu corpo aquecido e funcionando por uma semana na Sibéria sem roupas.

Afinal de contas, dinheiro é um recurso com o qual não se brinca, e se você vai pagar 70 reais no rodízio da churrascaria, é bom que seja MUITA comida, pra justificar o valor.

Eu passei um bom tempo estudando várias fontes (científicas, outras nem tanto) para criar uma estratégia universal, aplicável em qualquer variedade de comida. Pizza, churrasco, comida japonesa, lanches ou qualquer outra estilística gastronômica.

Primeiramente, o objetivo aqui não é exatamente causar prejuízo ao restaurante, por um motivo simples.

Causar prejuízo é extremamente complicado porquê pessoas mais inteligentes que eu e você já calcularam o preço do rodízio de forma que seja realmente difícil de comer mais do que você está pagando, o que é lógico e observável caso o restaurante já esteja aberto por mais de três meses. Segundo, isso significaria se restringir a comer apenas a coisa mais cara servida. E por mais que isso soe legal, acaba perdendo a graça bem cedo, e boa parte da diversão de um rodízio vem da miríade de diferentes comidas servidas.

A primeira parte do guia envolve a preparação, que é um dos passos mais importantes.

Não dá pra descobrir que tem prova de geometria analítica daqui 15 minutos e esperar ter um bom resultado, sendo que você vem enrolando e empurrando com a barriga as tarefas que o professor passou na primeira semana de aula. Tem que fazer os exercícios e estudar com uma boa antecedência, como todo mundo sabe. (e quase ninguém faz)

Da mesma forma, um rodízio exige um preparo mental. E estomacal.

Logicamente, você não quer fazer uma refeição antes de sair de casa, seria como chegar no campo de batalha com os braços faltando. Não dá pra fazer muita coisa em uma guerra sem os braços. Por outro lado, ficar muito tempo sem comer é uma ideia igualmente ruim. Nosso estômago acaba por encolher quando vazio por um tempo prolongado, e por mais que você chegue faminto, não vai demorar a ficar cheio.

Se for na hora da janta, faça um almoço volumoso porém leve e baixo em calorias. Um punhado de salada e alguma outra coisa, como uma porção de arroz e alguma carne ou sei lá. Não importa muito o quê, pra ser sincero. Mas o ideal é ser leve, pra não ter nenhuma fatiga na hora de comer de verdade.

Na hora do almoço é um pouco mais complicado de se preparar, mas pra mim o que funciona melhor é jejuar até a hora de comer, tomando MUITA água no meio do caminho. Por volta de 2/3 litros é interessante. A importância disso é dilatar o estômago e deixar tudo funcionando bem, pra conseguir digerir direito a quantidade sobrenatural de comida que vai cair ali.

Quando faltar uns 40 minutos pra hora prevista, pare de beber água. Depois que você esvaziar esse teu tanque, vai sobrar bastante espaço pra massaroca de macronutrientes ser estocada temporariamente nesse teu bucho.

Outra coisa que eu gosto de fazer é algum exercício físico no momento da preparação. É bom porquê dá uma puta fome depois que você termina, e você ainda consegue se enganar pensando que o estrago na dieta vai ser menor. Não vai.

Se você é um usuário de substâncias verdes combustíveis de consumo ilegal no Brasil, dizem que ajuda a abrir o apetite também. Não é muito a minha coisa, mas provavelmente funciona melhor que todo o resto.

Com tudo isso, já dá pra ter um preparo legal e se tudo ocorrer com o combinado, você já está faminto e pronto pro abate. Ótimo.

Chegando no restaurante, é importante conhecer todo o ambiente primeiro. Olhe toda a mesa do buffet e veja tudo que é servido antes de começar a comer. Assim, você consegue ter uma ideia do que mais quer comer, e não perde recursos valiosos como tempo e volume na barriga com coisas que não te interessam tanto.

Vale lembrar que muito do que é servido tem a única função de te encher, custando menos ao restaurante. Pão, pastelzinho, polenta, banana, macarrão e similares devem ser evitados, a não ser que seja algo especial e realmente interessante.

A exceção pra isso são as saladas. Pode parecer idiotice comer salada antes do resto, mas dessa forma você consegue preparar seu estômago pra receber uma quantia insalubre de gordura daqui a pouco, e por consequência você passa menos mal depois. Não é pra exagerar, claro, mas um pouco de fibra no começo da refeição ajuda bastante.

Bebidas, não podemos nos esquecer. Uns goles de cerveja aqui, garfadas dali e em poucos minutos você se pergunta como já está cheio. Bebidas carbonatadas (com gás, sendo cerveja, refrigerante ou água com gás) junto com alimentos te deixam estufado, e por tanto devem ser evitadas a todo custo. Se você é do tipo que NÃO consegue comer sem molhar o bico com alguma coisa, pega uma água, copo com limão e gelo. É bom pra empurrar a comida pra baixo quando parece não ter mais jeito, e o limão ajuda um pouco com a digestão da gordura.

Mesmo assim, eu evito sempre que possível e não peço nada pra beber. Já dizia mamãe: água tem de graça em casa.

Se você for escolher apenas uma única coisa pra tirar disso tudo é que bebida com gás em rodízio não rola. Se for pra beber alguma coisa, que essa coisa seja água e só pra dar aquela empurrada depois.

Outra coisa: devagar e sempre é o lema. Eu tinha a impressão que comer depressa me faria conseguir comer mais antes de o cérebro perceber que já era o suficiente pela semana, mas evidências empíricas me mostraram que o ideal é ir com calma.

A lógica faz sentido: se você mastigar bem e comer devagar, consegue ter tempo de digerir as primeiras coisas que você comeu antes de sair do restaurante, e aí dá pra comer mais. Além disso, a comida desce mais compacta desse jeito, fica mais organizado e com menos ar, o que quer dizer que cabe mais. Física pura aplicada.

Um lifehack mental: prato novo, vida nova. Por algum motivo, quando nada mais parece ter jeito, a imagem de um prato branco e imaculado envia o sinal ao cérebro de que ainda é tempo de comer. Assim, é uma boa ideia trocar de prato frequentemente ao longo da refeição.

E é basicamente isso. Se você chegou até aqui, soldado, você está preparado para aproveitar melhor o rodízio, e se arrepender ainda mais no caminho de casa, quando cada chacoalhada que o carro der fizer você se lembrar da entrada de carpaccio que você comeu uns 50 minutos atrás.

Apesar do sentimento de arrependimento e culpa ser prevalente, você ainda volta com um sorriso no rosto, em deleite pela bela experiência gastronômica que acabara de presenciar. Jurando que nunca mais comeria tanto assim, e que amanhã, só salada. Mentiras essas jamais acreditadas nem por uma consciência ensandecida ou ruim das ideias, que dirá a sua própria.